ESPECIAL GRAMMY AWARDS – PANÁTICOS DE PLANTÃO
Grammy boicota artistas não americanos
A 47ª edição do Grammy confirmou várias tendências da indústria fonográfica americana ¿ a maioria delas desapontadoras.
Enquanto os números musicais ficam cada vez mais exagerados, a premiação provou que artistas europeus perdem cada vez mais espaço na música do país e que a confusão de categorias vem prejudicando alguns artistas, como Bebel Gilberto.
No lado positivo, o evento mostrou que selos pequenos como a Nonesuch vêm conseguindo quebrar as regras da indústria.
Que o Grammy não reflete a sofisticação do Brit Awards (a premiação inglesa equivalente) não é novidade. Do outro lado do Atlântico, há poucos dias, o grande vencedor foi o Scissor Sisters, uma banda (ironicamente) nova-iorquina, que foi virtualmente ignorada no mercado americano, mas teve o álbum mais vendido na Inglaterra em 2004.
No Grammy, os escoceses do Franz Ferdinand ganharam o ¿prêmio de consolação¿ de participar de um confuso número de abertura ¿ mas voltaram para casa sem nenhum gramofone de ouro.
É um exemplo típico: a Academia até reconhece a existência de alguns artistas que viraram unanimidade na Europa ¿ mas como a maioria dos membros que escolhem os vencedores nunca ouviu a música em si, os prêmios acabam indo para os nomes americanos mais conhecidos.
O conceito de ¿diversidade¿ do Grammy é organizar um dueto de Jennifer Lopez com o marido Marc Anthony, em espanhol, em um cenário que lembra uma novela mexicana. A grande exceção, claro, é o U2, que, com 25 anos de carreira, é uma banda global.
Na categoria de melhor faixa de dance music, por exemplo, Britney Spears, venceu Chemical Brothers, Basement Jaxx, Kylie Minogue e Scissor Sisters, com sua fraquíssima Toxic. O prêmio de melhor álbum de dance music ficou com os ingleses do Basement Jaxx (Kish/Kash) ¿ mas todos os outros concorrentes também eram ingleses.
Nomes como Björk e até a sensação teen britânica Joss Stone dificilmente conseguiriam transpor a concorrência de nomes como Norah Jones e Alicia Keys.
A brasileira Bebel Gilberto saiu prejudicada por conta de um julgamento pobre da Academia em relação ao gênero de música da cantora. O segundo disco dela, Bebel Gilberto, perdeu para Egypt, de Youssou N¿Dour, na categoria de melhor disco de world music.
Um trabalho que poderia claramente concorrer em categorias do campo pop, o álbum foi rotulado como world music talvez pelo fato de a cantora ter sido criada no Brasil?
Várias das faixas são em inglês, metade delas foram gravadas nos Estados Unidos e o trabalho foi inicialmente lançado no mercado internacional, então é estranho que apareça em uma categoria que ainda é muito associada a tambores africanos e referências opostas ao padrão pop americano.
Um dos poucos pontos positivos do Grammy é a atenção que selos como a Nonesuch vêm ganhando.
Responsável pelos discos americanos de Caetano Veloso e com um casting que inclui K.D.Lang e David Byrne, a Nonesuch foi premiada com o Wilco (melhor disco de música alternativa, A Ghost is Born, que também ganhou como melhor embalagem), Youssou ¿N Dour (melhor álbum de world music, Egypt), Brian Wilson (melhor performance de rock instrumental por Mrs. Oleary¿s Cow, faixa de Smile), Bill Frisell (melhor disco de jazz contemporâneo, Unspeakable), além de três prêmios na categoria clássica.
Nada mal para uma gravadora que tem apenas 12 funcionários e um orçamento de marketing bem pequeno para os padrões americanos.
Fonte: Terra Especial Grammy 2005