CHUPINHADO DA FOLHA DE SP ILUSTRADA, POR DANIEL CASTRO….

23 de maio de 2005 Off Por OldSchool

  Visto pela elite, “Pânico” triplica receitas

DA REDAÇÃO

Dos três primeiros programas na disputa pelo público da faixa das 18h às 20h dos domingos, o “Pânico” é o que tem, proporcionalmente, a audiência mais qualificada. De cada cem telespectadores do programa, mais de 90 são das classes A, B e C, as que têm poder de consumo e eletrizam os anunciantes. Só as classes A e B, a elite econômica, respondem por 53% da audiência.
É bem mais do que o “Domingão do Faustão” (30% de AB). No entanto, por ter audiência menor (média de oito pontos, ou 588 mil telespectadores na Grande São Paulo em abril e maio), o “Pânico” ainda é visto por menos gente da elite do que o concorrente da Globo.
O mercado publicitário já descobriu esse lado nobre do “Pânico”, um programa que atrai o público pela criatividade de uma produção sem recursos e pela sátira e crítica à indústria de celebridades, incluindo a própria TV.
No domingo passado, o “Pânico” teve 15 minutos de propaganda paga e cinco merchandisings. Nos intervalos, foram 26 comerciais, entre eles os de anunciantes para consumidores sofisticados, como Volkswagen, General Motors, Suzuki e Red Bull, além de Sadia, Nestlé, Coca-Cola e Pepsi. “Temos fila para merchandising, que limitamos a cinco por programa”, comemora Amilcare Dallevo Jr., presidente da Rede TV!.
Antonio Rosa Neto, consultor de mídia que assessora grandes anunciantes, corrobora: “O “Pânico”, assim como o “Perdidos na Noite” nos anos 80, fala para o formador de opinião, que influencia de três a dez pessoas”.
Dallevo afirma que o “Pânico” irá ganhar mais meia hora para atender à demanda publicitária. O executivo não revela o faturamento do programa. Diz apenas que ele triplicou em um ano.

Humildade

Líder e “cérebro” do grupo, o apresentador Emílio Surita tem um discurso humilde, diferente das personalidades que seus comandados perseguem para que calcem as “Sandálias da Humildade”, um “prêmio” para famosos tidos como arrogantes.
“Quando o “Pânico” dava dois pontos no Ibope, tinha a mesma repercussão que agora”, diz Surita, que se empenhará numa campanha por um cenário -o atual se resume a oito tapadeiras e uma bancada, “reciclada de merchandising”, e custou R$ 5.000.
Surita duvida que o “Pânico” possa existir na Globo. “Não é um produto da Globo. O “Pânico” está na contramão, é alternativo, subversivo. Sinceramente, eu não iria para a Globo. Lá, tem uma cartilha que proíbe zoar com programas de outras emissoras. Se virar oficial, perde a graça”, avalia. “Acho difícil o “Pânico” funcionar fora da Rede TV!.”
Para Surita, também não adiantam injeções cavalares de dinheiro na produção do “Pânico”. “As pessoas gostam de saber que funcionamos com pouco dinheiro.”
Rodrigo Scarpa, o Repórter Vesgo, assina embaixo. “Só na Rede TV! a gente pode zoar os donos da emissora”, conta. Scarpa se prepara agora para perseguir Jô Soares, que chama de “o Bonzão”. Tentará infernizá-lo com as “Sandálias da Humildade”.
O “Pânico” também já goza de respeito da concorrência. “Eles fazem um humor irreverente que provoca boas risadas. Considero um trabalho muito criativo. Eles são a bola da vez”, diz Gugu Liberato, que admite que não se sente confortável ao ser mostrado um tanto delicado nas sátiras do programa. “Claro que é mais prazeroso ser reconhecido pelas qualidades”, afirma o apresentador.
“O “Pânico” se aproveitou de um vácuo na audiência dos domingos. Ganhou o público que não gosta do Faustão e o que deixou de gostar do Gugu após o caso PCC”, analisa Alberto Luchetti, ex-diretor do “Domingão”.
O aspecto apelativo do “Pânico” já gera problemas. Na semana passada, a emissora foi condenada a pagar indenização de R$ 100 mil a uma mulher que se sentiu constrangida por ter sua saia levantada ao ser abordada na São Paulo Fashion Week, em janeiro. A Rede TV! irá recorrer.
Por ser humorístico, o programa não tem “compromisso com a verdade”. Nos últimos dois meses, fez parecer ao público que um de seus integrantes, Márvio Lúcio, o Carioca, desistiu da TV e virou hare krishna. Carioca, na verdade, continua no palco do programa, protegido pela máscara do personagem Mestre Fioda.
(DANIEL CASTRO)

FONTE :

FOLHA ILUSTRADA 22/05/2005